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Brasil dá Adjö, em sueco, à Copa do Mundo

       Quando o sistema de som do Melbourne Rectangular Stadium, em Melbourne, na Austrália, despejou em potência máxima o sucesso “One love”, aquele  reggae histórico de Bob Marley embalava o pior pesadelo para a torcida verde-amarela, que acordou cedo para ver a partida entre as seleções brasileira e jamaicana, pelo Grupo F da Copa do Mundo Feminina da Fifa. Com o 0 a 0 no placar final, o Brasil estava eliminado da competição ainda na primeira fase, o que não ocorria desde 1995, na Suécia. Antes, o Brasil também havia sido desclassificado na fase de grupos no Mundial de 1991, na China.

No Grupo F, a Jamaica assegurou a segunda vaga, tendo assinalado apenas um gol, no 1 a 0 sobre o Panamá no segundo jogo. Fora isso, empatou sem gols com a França e com o Brasil. Já as francesas, terminaram em primeiro no grupo, confirmando o favoritismo na chave ao empatar com a Jamaica, vencer o Brasil e golear o Panamá por 6 a 3. A definição dos adversários de França e Jamaica sairá das partidas desta quinta, entre Coreia do Sul x Alemanha e Marrocos x Colômbia.

O resultado entre Brasil e Jamaica marcou também o último confronto em Copas do Mundo da Rainha Marta, eleita por seis vezes a maior atleta da modalidade no mundo, mas que se despede sem conseguir ajudar a equipe nacional a ganhar seu primeiro título mundial. É importante ser ressaltado que jamais uma seleção brasileira formada por mulheres teve tanto apoio e estrutura, a ponto de contar com uma treinadora estrangeira, Pia Sundhage, que chegou ao país há 4 anos, ostentando o título de bicampeã olímpica dirigindo os EUA, em Pequim-2008 e Londres-2012, além da prata treinando a Suécia, na Rio-2016.

Logo após o jogo, a técnica Sundhage, emocionada, lamentou a eliminação.

“Primeiramente, precisávamos ter criado mais chances. Elas jogaram bem, lutaram, mas não conseguiram quebrar a defesa da Jamaica. Muito triste… As expectativas eram altas. Começamos a Copa muito bem, mas temos de encarar a realidade dos resultados”, analisou.

Entretanto, Sundhage, que havia assumido a culpa na partida anterior, dessa vez não reconheceu as próprias falhas. Nesta Copa, a treinadora ficou devendo em vários momentos decisivos, tanto na derrota (2 a 1) para a França quanto no empate desta quarta, quando entre outras coisas demorou a mexer no time. Mas não apenas isso. Como ela própria admitiu na derrota para as francesas, não soube como conectar o grupo ao longo de toda a competição. Além disso, em momento algum estabeleceu claramente se Marta era titular ou não. Se não estava 100%, por que a convocou? Se estava, por quê a camisa 10 começou no banco contra o Panamá e, no jogo com a França, fez com que a craque entrasse a menos de 15 minutos do fim? E por quê Sundhage escalou Marta como titular contra a Jamaica? Por se tratar de um jogo decisivo? Foi desespero? Tantas dúvidas lançam um questionamento sobre o próprio trabalho de Sundhage. Teve muito em mãos, mas entregou pouco. Talvez seja a hora de agradecer à treinadora e dizer a ela: “Adjö” (adeus em sueco).

Fim da linha para a Rainha Marta

Logo após o jogo, a supercraque Marta reconheceu ser difícil falar naquele momento. Aos 37 anos, confirmou que aquele era o adeus dela à Copa do Mundo, em sua sexta participação.

“Não era, nem nos meus piores pesadelos, a Copa do Mundo que eu sonhava…O povo queria a renovação (da seleção). A única velha sou eu, e a Tami (Tamires, de 35 anos), que está ali perto. Está tendo renovação. Quero que as pessoas no Brasil continuem com o mesmo entusiasmo, continuem apoiando. As coisas não mudam de uma hora para a outra. Havia seleções que antes perdiam de 7, e hoje estão jogando de igual para igual com as grandes. A Marta acaba por aqui. Não tem mais Copa do Mundo para a Marta. Mas continuem apoiando. Para elas (as jovens atletas da seleção) é só o começo. Para mim, é o fim da linha agora”, enfatizou, acrescentando que agora quer estar com a família e sem antecipar se irá às Olimpíadas de Paris-2024.

      Destaque da seleção na estreia (4 a 0), com 3 dos 4 gols sobre o Panamá, a apoiadora Ary Borges admitiu que o sentimento era de decepção e até de vergonha, pela sensação de que o Brasil poderia ter ido muito mais longe.

“A Copa do Mundo é isso. Foi a minha primeira, e pude ver como enfrentamos altos e baixos em intervalos de sete, oito dias”, declarou, negando que o fato de a seleção ter várias estreantes em Mundiais possa ter pesado nesse resultado. “Faltou conseguirmos botar a bola dentro da rede, que é o que importa no futebol. Nem que fosse o gol mais feio do mundo…infelizmente, o futebol é desse jeito. É cruel. Num dia, você está feliz, e no outro, está eliminada e frustrada. Preciso me preparar mais, porque aqui o sarrafo é muito alto. Então, falta alguma coisa. Quero me preparar para isso, porque quero estar aqui (numa Copa) de novo.

Sobre o jogo em si, o Brasil teve um começo animador, com chances de Marta, Debinha, Adriana e Tamires, que terminaram nas mãos da goleira Spencer. Embora com maior posse de bola, a equipe esbarrava na boa marcação montada pelo técnico jamaicano Lone Donaldson, cuja federação organizou uma vaquinha nacional para custear a viagem das Reggae Girlz (apelido daquela seleção) ao Mundial. Na volta para o segundo tempo, Sundhage trocou Ary Borges pela atacante Bia Zaneratto, mas embora o Brasil continuasse com muito mais posse de bola, acabou criando muito menos que na primeira etapa.

Somente aos 35 minutos da fase final, porém, a treinadora brasileira voltou a fazer trocas, colocando em campo Geyse, Duda Sampaio e Andressa Alves nos lugares de Antônia, Luana e Marta. Era tarde. O Brasil ainda teve uma falta cobrada por Andressa Alves nas mãos da goleira jamaicana, já aos 45 do segundo tempo. Quatro minutos depois, aos 49, até a goleira Lelê foi para a área rival na esperança de que a bola entrasse. A bola foi para Debinha, que cabeceou nas mãos de Spencer. Era o fim. Ou o começo da festa reggae, com One Love! One Heart! Let’s get together and feel all right! (Um só amor! Um só coração! Vamos continuar juntos para ficarmos bem!)

JAMAICA 0 x 0 BRASIL

Local: Melbourne Rectangular Stadium, em Melbourne, na Austrália

Arbitragem: Esther Staubli  (Suíça)

Assistentes: Katrin Rafalski  (Alemanha) e Susann Küng

Público: 27.638 pessoas

JAMAICA: Spencer; Blackwood, A. Swaby, C. Swaby e Wiltshire; Sampson, Spence, Primus, Brown (Washington) e Matthews (Cameron); Shaw.

BRASIL: Lelê; Antônia (Geyse), Rafaelle, Kethellen e Tamires; Luana (Duda Sampaio), Kerolin, Adriana e Ary Borges (Bia Zaneratto); Debinha e Marta (Andressa Alves).

Cartão amarelos:  Matthews (Jamaica)

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