Por Djan Madruga
O Uzbequistão ficou em 13° lugar no quadro de medalhas em Paris, uma posição que nós brasileiros (20°) gostaríamos de ter conquistado, e com os oito ouros obtidos por aquele país da Ásia Central.
O Uzbequistão é um país com área menor do que Minas Gerais, população menor do que a de São Paulo, com 35,6 milhões de habitantes, e PIB igual ao do Paraná, ou seja, de tamanho e economia equivalentes a um grande estado brasileiro. Isto prova que para ser uma potência olímpica não precisa ser um grande país. Dá para ser potência olímpica com uma estratégica focada em certos esportes que dão muitas medalhas, como as lutas, por exemplo. Os uzbeques conquistaram cinco ouros no boxe e dois no judô. Detalhe, levaram 85 atletas para Paris, enquanto o Brasil levou 277. Mas isso não quer dizer que o Brasil errou e eles acertaram, afinal nossa população é seis vezes a deles.
Por que não temos uma estratégia olímpica voltada para estarmos no lugar deles? Temos duas alternativas: dobrar o nosso orçamento para o esporte de alto rendimento, ou criar uma política federal de esportes. Historicamente todos os nossos governos apenas implantaram ações e programas esportivos sem continuidade, `a exceção de bons programas que mantiveram nosso esporte vivo. Tivemos governos indiferentes ao esporte, legislações fracas e confusas, pequena prática esportiva formal, falta de áreas e infraestrutura para a prática esportiva, uma educação física lamentável nas escolas e universidades, e principalmente orçamentos pífios nos ministérios e secretarias de esporte do nosso país.
No atual orçamento federal, de R$ 5.5 trilhões, o esporte tem apenas 0,04%, ou seja, R$ 2.4 bilhões, o que mostra a desimportância do esporte. Mas não achem que o problema é só deste governo, foi assim também nos outros governos. Todos ignoraram a importância do esporte para a saúde e bem-estar da população. Não tiveram a visão de uma política de estado usando o esporte para a melhoria da saúde da população. Apenas destinaram ao esporte recursos mínimos, década após década.
Desconsideraram a máxima mundial de que para cada dólar investido em esporte e atividade física se economizam três em gastos médicos. Mas como isto refletiria nos resultados olímpicos? Considerando que de cada 10.000 praticantes de esportes federados, sai um atleta olímpico, se o esporte fosse mais importante para nossos governos, teríamos mais atletas na base, o que acabaria refletindo no topo, com o aumento das medalhas olímpicas. Sem falar, é claro, na melhoria dos indicadores sociais e na diminuição do sedentarismo para dezenas de milhões de brasileiros. Quando isto acontecer, talvez sejamos um Uzbequistão olímpico.
Djan Madruga- Medalhista olímpico em Moscou (1980), Mestre em Educação Física, Indiana University (1984), Ex-Secretário Nacional de Alto Rendimento (2007-2008), Criador do PAAR- Projeto de Lei Orçamentária, 2007
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