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"Garra de Ferro": vai te prender até o final!

Por Marco de Cardoso

AIB News


Você acredita em maldição? Bom, independente da resposta, quando você conhecer a história da família Von Erich vai ficar tentado a acreditar. São tantas tragédias na vida desse ‘’clã’’, que eles já foram comparados à outra família dita ‘’amaldiçoada ’’: os Kennedy. Tanto que os Von Erich já foram chamados de ‘’os Kennedys do esporte’’.

Essa epopeia que beira as raias do inacreditável pode ser vista no drama ‘’Garra de Ferro’’ que chega aos cinemas colocando o espectador no centro do ringue onde ocorrem batalhas físicas, mas também emocionais e existenciais dessa família de lutadores.

O roteiro (assinado por Sean Durkin, que também dirige o filme) é baseado na vida dos Von Erich, uma famosa família de atletas lutadores dos Estados Unidos, que fez muito sucesso principalmente na década de 80 do século passado.

Logo de cara o filme nos revela o perfil do ‘’patriarca’’ Jack Barton Adkisson, um lutador do estado americano do Texas, que pratica um estilo de luta livre, que nos EUA se costuma chamar de wrestling (que aqui no Brasil ganhou o apelido de ‘’telecatch’’) e que cria um golpe poderoso para ‘’finalizar’’ adversários: o ‘’Garra de Ferro’’(Iron Claw). Jack acaba passando a usar o sobrenome alemão da família do pai e a se apresentar no mundo da luta como ‘’ Fritz Von Erich’’.



Fritz (Holt McCallany), trata os filhos Kevin (o astro Zac Efron), Kerry (Jeremy Allen White), David (Harris Dickinson) e Mike (Stanley Simons) como uma equipe de lutadores, treinando-os à exaustão, com uma verdadeira obsessão de fazê-los ‘’campeões do mundo’’. A câmera captura a complexidade da relação entre os filhos e o pai, um homem extremamente severo que age, quase sempre, de forma bruta na expectativa de ver ‘’seus garotos’’ alcançarem o que crê ser o ápice da vida: a fama, a fortuna e a glória.

Nessa batalha para transformar as crias em ‘’gigantes do ringue’’, Fritz estabelece uma rotina diária de treinos extenuantes e cobra que sejam fortes, duros e suportem a dor e as pancadas (dos adversários e da vida) o tempo todo, sem tréguas para a emoção, como na cena em que indo para o velório de um de seus próprios filhos, proíbe que os outros usem óculos escuros, bem naquela linha (antiquada) de ‘’homem não chora’’.

Aliás, tragédia parece ser o pano de fundo da existência da família. Sem querer dar ‘’spoiler’’ (até porque a história dos Von Erich já é bem documentada e disponível para quem quiser se informar) o filme mostra uma sucessão de acontecimentos trágicos: um Von Erich morre num terrível acidente ainda criança, outro não resiste a uma doença fulminante às vésperas de disputar o título mundial e dois não suportam as constantes exigências ao extremo e resolvem tirar a própria vida. 

Uma curiosidade: um outro filho de Fritz, Chris, ficou fora do filme. Ele foi o único Von Erich que não se tornou lutador e acabou também se suicidando. A explicação do diretor Sean Durkin, é que do ponto de vista narrativo, o roteiro ‘’não suportou a morte de outro irmão’’. Faz sentido…

A direção impecável de Durkin expõe o drama humano dessa família marcada por triunfos espetaculares e tragédias inimagináveis. O emblemático golpe ‘’Garra de Ferro’’ se torna uma metáfora da pressão asfixiante que os irmãos enfrentam, tanto dentro, quanto fora do ringue. E a cena final, com um certo toque ‘’espiritualista’’, busca trazer uma mensagem de redenção e paz ao sofrimento dos irmãos Von Erich.

Outro ponto alto é transportar a plateia para o universo vibrante, competitivo e até mesmo espalhafatoso da luta livre americana nas décadas de 70 e 80, dominado pela influente National Wrestling Alliance (NWA). Aliás, para quem acha que as lutas são uma grande ‘’marmelada’’, vale a pena prestar atenção na resposta que o personagem de Zac Efron dá para a namorada, quando ela faz exatamente essa pergunta.

Existe todo um cuidado com a reconstituição bem fiel da época, envolvendo desde os figurinos e estilos de cortes de cabelo e penteados, até os comportamentos e linguagem da juventude ‘’do século XX’’. As cenas de transmissão das lutas e entrevistas, feitas por redes de TV com tecnologia analógica são uma deliciosa ‘’viagem no túnel do tempo’’.

A trilha sonora é outro trunfo de “Garra de Ferro”, com clássicos de Rush, Blue Oyster Cult, Frankie Valli and The Four Seasons, entre outros, que não apenas captam o espírito daquelas décadas passadas, mas também amplificam o drama emocional e as tensões da história. 

E o elenco principal dá um verdadeiro show de interpretação. Além dos atores que fazem o pai e os 4 irmãos, Lily James (que faz Pam, a esposa de Kevin), Maura Tierney (Doris, a esposa, mãe e ‘’matriarca’’ da família) e Aaron Dean Eisenberg (que interpreta Ric Flair, o lutador ‘’arquirrival’’ dos Von Erich) também apresentam uma performance espetacular. O trabalho cênico traz a sensação de que não estamos assistindo a uma ficção, mas a um ‘’reality show’’ e que na tela não são atores e atrizes, mas uma família de verdade!

Em suma,’’Garra de Ferro’’ é o chamado ‘’filmaço’’, que vai prender sua atenção até os créditos finais e vale a pena cada centavo do ingresso (e mais as pipocas). O filme já ganhou prêmios nos EUA, do Boston Society of Film Critics Awards, pela atuação do elenco e também do National Board of Review of Motion Pictures, que o considerou um dos 9 melhores filmes do ano. Com tudo isso, causa absoluto espanto que não esteja concorrendo ao Oscar em nenhuma categoria. Mas pensando bem…azar do Oscar!!!


Marco de Cardoso é diretor cultural da AIB- Associação da Imprensa do Brasil


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