Por Andréa Bruxellas
Independentemente dos resultados do Campeonato Brasileiro e do Mundial, no mês que vem, a ginástica artística brasileira já ocupa um outro patamar. Depois de Rebeca Andrade ter se tornado campeã olímpica e mundial e, também, a primeira brasileira a conquistar duas medalhas em uma mesma edição olímpica, prata no individual geral e ouro no salto, nos Jogos de Tóquio 2020, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) colocou o Brasil como referência na parte artística e coreográfica no mundo.
Tanto que enquanto os ginastas brasileiros estão na Bahia para o Campeonato Brasileiro, o coreógrafo Rhony Ferreira, que “vestiu” a coreografia das medalhistas brasileiras, está em Bogotá, na Colômbia, a convite da União Pan-Americana de Ginástica para dar um treinamento para atletas da América do Sul que vão participar do Mundial.
Rhony Ferreira trabalhando para elevar o nível da ginástica
Foto: Divulgação/ União Pan-Americana de Ginástica
“Eu fiquei muito feliz com o convite porque diante de tantos treinadores bons na América eu fui convidado, assim como a Aimee (Aimee Boorman), da seleção americana, para fazer esse trabalho com intuito de elevar o nível da ginástica, principalmente da América Central e Sul, para que a gente tenha uma maior representatividade nos campeonatos internacionais, principalmente nos mundiais e jogos olímpicos. Porque até aqui, só mesmo o Brasil, os Estados Unidos, o Canadá e o México tiveram resultados expressivos, o resto ainda está com muita dificuldade para chegar ao alto nível”, disse Rhony.
A intenção da União Pan-Americana é conseguir fortalecer o continente já no próximo mundial da Bélgica e nos Jogos Pan-Americanos do Chile. Para isso, 22 ginastas da Colômbia, México, Porto Rico, Costa Rica, República Dominicana, Chile e Venezuela estão participando do curso em que Rhony dá aulas individuais e coletivas para ajustar cada pedaço das coreografias com as músicas.
“O Brasil é um dos países com melhor presença artística no exercício de solo e Rhony é peça chave desse trabalho”, explicou Yazaira Cabrera, presidente do Comitê Técnico feminino da União Pan-Americana de Ginástica, responsável pelo convite.
As notas artísticas do Brasil são as melhores do mundo, o que era impensável no passado quando as ginastas européias obtinham os melhores resultados na modalidade.
“Isso me coloca com um respaldo bem grande de respeito na comunidade da ginástica e faz com que as pessoas acreditem bastante nas propostas que eu trago e na minha experiência. É importante também pra gente como brasileiro ser referência no mundo”, conta orgulhoso o coreógrafo do “Baile na Favela”, de Rebeca Andrade, e do “Brasileirinho”, de Daiane dos Santos.
Ginastas começam a disputar o Campeonato Brasileiro com pensamento em Paris 2024
A disputa pela classificação da ginástica artística para Paris 2024 vai estar bastante acirrada nos próximos meses. Ao todo serão 12 países classificados para os Jogos no masculino e no feminino. Três países já carimbaram o passaporte no mundial do ano passado nas duas categorias. China, Japão e Grã-Bretanha no masculino; e Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá no feminino. Agora restam nove vagas e o Brasil vai batalhar por uma delas nos dois naipes. E a oportunidade mais esperada para classificar ambas as equipes está bem próxima, será no Campeonato Mundial, em Antuérpia, na Bélgica, entre os dias 1 e 8 de outubro.
O Brasil quer a classificação por equipes para repetir o feito do Rio 2016, quando foi representado por 10 ginastas ao todo, cinco homens e cinco mulheres. Mas, além do critério por equipes, um outro caminho possível até Paris é o individual geral, em que serão distribuídas oito vagas no masculino e 14 no feminino, sendo que cada país só poderá classificar um atleta por gênero. Essa vaga, no entanto, é nominal, isto é, pertence ao atleta e não ao país. Os homens vão competir em seis aparelhos e as mulheres em quatro. O melhor ginasta de cada aparelho ainda não classificado também garante a vaga. Além do Mundial, também serão distribuídas vagas nominais no ano que vem nas Copas do Mundo e nos Campeonatos Continentais.
E o Campeonato Brasileiro, disputado no município de Lauro de Freitas, em Salvador, na Bahia, está sendo um excelente aquecimento para o Mundial. Ao todo 50 ginastas de 12 equipes da Ginástica Artística Feminina e 37 atletas de 10 agremiações participam da competição. Nesta sexta-feira começaram as disputas do adulto nos aparelhos.
Ao mesmo tempo em que os atletas aproveitam a competição para acertar os últimos detalhes das apresentações antes do Mundial, também é um momento que exige muito cuidado. Segundo a ex-ginasta e comentarista, Andréa João, uma das árbitras do Campeonato Brasileiro, os atletas estão procurando se poupar ao máximo.
“As ginastas praticamente até aqui não fizeram as séries completas por medo de acidente. Rebeca também não apresentou a série de solo nova para deixar para hora da competição já que se apresentar antes, todo mundo pode filmar e divulgar antes da confederação. O masculino também treinou muito pouco. O Caio se machucou na semana passada e fez uma cirurgia. Os outros atletas treinaram mas também se poupando muito”, explicou.
Caio Souza, que é considerado o atleta mais completo do Brasil na atualidade, sofreu uma lesão no tendão de Aquiles no início deste mês e está fora do Mundial da Antuérpia, o que é um desfalque importantíssimo para o Brasil. As expectativas, agora, se voltam para os medalhistas Arthur Nory e Arthur Zanetti, que na apresentação desta sexta obteve as notas mais altas do seu grupo no solo, nas argolas e no salto sobre a mesa.
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