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IA bate bolão no esporte

Por Andréa Bruxellas

(publicada no Blog do Leme- Laboratório de Estudos em Mídia e Esportes)


Recentemente assisti à série “Betinho: No Fio da Navalha” sobre a trajetória do sociólogo Herbert de Souza e tive uma espécie de revival daquela época, da Ação da Cidadania contra a Fome e dos meus tempos de trabalho no Jornal do Brasil. Bem antes de começar a estudar jornalismo, quando passava pelo imponente prédio na Avenida Brasil, 500, em frente ao Porto do Rio de Janeiro, dizia: eu ainda vou trabalhar aqui. 

Meu sonho foi realizado anos depois e, já na redação do JB da Av. Brasil, tive minhas primeiras aulas sobre a Internet. Naquela época, 1995, trabalhava na Editoria de Projetos Especiais e meu então chefe, o jornalista Sérgio Charlab, foi autor do projeto do primeiro jornal digital na Internet brasileira, o JB online. Lembro da minha felicidade ao acessar pela primeira vez de casa à internet através do único provedor de acesso discado disponível, o Alternex, que tinha a base operacional no Ibase, Instituto Brasileiro de Análise Sociais econômicas, fundado por Betinho e pelos economistas Carlos Afonso e Marcos Arruda.

De lá para cá, muita coisa mudou na sociedade e a transformação digital afetou todas as esferas da vida e passou a influenciar comportamentos. A tecnologia gradativamente também foi penetrando no esporte. Em busca da vantagem competitiva, as práticas intuitivas do passado foram deixadas de lado e a exploração dos limites do corpo e a busca constante pelo alto desempenho passaram a ser ancoradas por uma base tecnológica que possibilita aos treinadores, atletas e dirigentes acompanharem cada movimento individualou por equipe em tempo real através de chips, softwares especializados e sensores digitais (DUKING ET AL, 2018).

Um bom exemplo de utilização de tecnologia em prol do espetáculo é o Super Bowl, campeonato da liga profissional de futebol norte-americano, cujo título foi decidido entre o Kansas City Chiefs e o San Francisco 49ers com vitória dos Chiefs na prorrogação por 25 a 22.

Durante o campeonato foram utilizados drones de monitoramento; bola com sensores para ajudar na precisão das informações da jogada e um centro de comando baseado em inteligência artificial para gerenciamento de rede e solução de problemas. O Super Bowl também inovou com a utilização do ChatGPT para compartilhamento rápido de mensagens via Twitter.

Graças a uma parceria com a plataforma Roblox, o usuário do Super NFL Tycoon também pôde entrar no metaverso como dono ou dirigente para tomar decisões pelo time de forma “real”.

É exatamente na tomada de decisão que o analista de dados assume um papel fundamental no desempenho esportivo. Ele é responsável por coletar, analisar e interpretar informações como padrões de jogo, pontos fracos do adversário e estratégias eficientes para obtenção da vitória. Portanto, as inovações tecnológicas estão revolucionando não só a prática esportiva como, também, a forma como o esporte é consumido, monetizado e regulamentado.

Algoritmos de machine learning e inteligência artificial passaram a ser ferramentas importantíssimas no milionário universo esportivo. O monitoramento de métricas como velocidade, frequência cardíaca, risco de lesões e eficácia dos passes auxiliam não só no aprimoramento dos treinos como na tomada de decisão durante os jogos. Além disso, os dados também estão sendo utilizados para contratação de novos jogadores, identificação de oportunidades de negócios e melhora da experiência dos torcedores.

O Botafogo, por exemplo, está testando no Campeonato Carioca um sistema de reconhecimento facial para acesso ao Estádio Nilton Santos. “Nossa torcida bateu todos os recordes de público no último ano, estamos investindo em tecnologia de ponta para aumentar a conveniência e a facilidade para acesso ao estádio. Esse é mais um avanço em uma série de transformações lideradas pelo John que estão em curso dentro do nosso planejamento estratégico. O torcedor pode esperar uma experiência cada vez mais simples e segura”, declarou o publicitário e especialista em transformação digital, Pedro Souto ao site FogãoNet.

Segundo Harrison e Bukstein (2016), as inovações tecnológicas ajudam na gestão de instalações esportivas e podem aumentar a eficiência das operações proporcionando melhores experiências para os consumidores.

Dos locais de competição aos uniformes para prática esportiva de alto nível, tudo é cuidadosamente estudado e aprimorado com intuito de aumentar a vida útil do atleta e garantir a rentabilidade do espetáculo, o que explica o fato do setor esportivo de uma maneira geral estar de olho em tecnologia. O tempo tem demonstrado que o uso dessas tecnologias define tendências e permite o avanço em relação à concorrência tanto dentro quanto fora das instalações esportivas.

A menos de seis meses dos Jogos Olímpicos, o espetáculo de mais alto custo e audiência da história, pergunta-se: quais serão as inovações tecnológicas introduzidas e as implicações de seus usos?

Nos Jogos de Tóquio 2020 o robô humanoide CUE, desenvolvido pela Toyota, bateu o recorde do Guinness ao acertar 2020 lances livres consecutivos. Após o sucesso da experiência digital experimentada com a ausência de torcedores devido ao Covid-19, certamente não faltarão esforços por parte do Comitê Olímpico Internacional (COI) para expandir o alcance e a aproximação virtual dos fãs. Em entrevista ao portal Orange, o diretor de tecnologia e informação de Paris 2024, Bruno Marie-Rose, destacou que a bilheteria será 100% digital.

“Queremos aprimorar massivamente a experiência do espectador. Eles poderão ‘se comunicar’ com os atletas em campo e desfrutar de experiências de competição mais imersivas”, explicou Rose-Marie.

A influência tecnológica também pode ser observada nas competições paraolímpicas com novas próteses e equipamentos que atendem melhor as necessidades dos paratletas. O professor israelense de história Yuval Noah Harari (2016) aposta que haverá um momento em que somente o progresso técnico será decisivo.

Vale destacar que os avanços nas tecnologias também têm feito surgir uma nova categoria de atletas que disputam com máquinas e despertam cada vez mais a atenção do público, o que demonstra o potencial da inteligência artificial para gerar emoções e mudar tanto a forma como os esportes são praticados quanto consumidos.

Novos desafios serão lançados. Os robôs esportistas a cada dia se mostram mais capazes de praticar esportes com destreza e desempenho comparáveis aos dos atletas humanos. Como exemplos, o FORPHEUS, robô da OMRON, no tênis de mesa, cuja sétima versão foi apresentada no mês passado; o CUE, que já fez sucesso no basquete nos últimos Jogos Olímpicos; a Jennifer, especializada nos esportes de inverno hóquei e esqui cross-country e o robô-ginasta Atlas, da Boston Dynamics.



Os números mostram que a relação entre esportes e tecnologia é profícua. Além de movimentar bilhões de dólares em todo mundo, o esporte ajuda as empresas a gerarem emoções e, consequentemente, lucro. Como empreendedores de si mesmos, os atletas já estão experimentando na pele as dores e as delícias dessa era digital. O campo é vasto e exige pesquisas e acompanhamento constantes.

Embora faça parte do grupo jurássico que começou a acessar à internet em seus primórdios, estou no bê-á-bá da alfabetização digital, consciente de que ainda não exploro todas as possibilidades da internet e dos smartphones. No entanto, sei que as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) vieram para ficar.  E se hoje elas desempenham um papel vital no esporte de elite, a tendência é de que em breve também passem a ser essenciais para que leigos e espectadores usufruam plenamente do espetáculo esportivo. Portanto, assim como os gestores de negócios ligados ao esporte estão antenados com essa tendência, a forma como nós, pesquisadores, lidaremos com a transformação digital em nossos respectivos campos será decisiva. Afinal, embora o Robotis OP3 desenvolvido pela Google DeepMind ainda não seja um exímio jogador de futebol, o mesmo não se pode dizer da inteligência artificial, que há muito tempo vem batendo um bolão no esporte.


Referências


DUKING, P., STAMMEL, C., SPERLICH, B., SUTEHALL, S., MUNIZ-PARDOS, B., Lima, G., et al. Necessary steps to accelerate the integration of wearable sensors into recreation and competitive sports. International Perspectives, 7(6), 178–182, 2018.


HARARI, Y. N. Homo Deus: A brief history of tomorrow. London: Harvill Secker, 2016.


HARRISON, K., & BUKSTEIN, S. Sport business analytics: Using data to increase revenue and improve operational efficiency. New York: Auerbach, Publications, 2016.




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