Tirar um peso das costas significa se livrar de uma responsabilidade, de um problema ou de uma enorme dor de cabeça. Mas e quando alguém põe um peso, ou melhor, ergue-o bem acima da cabeça, sem deixá-lo cair, para subir ao pódio? Esta, sem dúvida, é uma missão para os super-homens e super-mulheres do levantamento de peso, caso da carioca Laura Nascimento Amparo, que conquistou, na última segunda-feira, a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Santiago.
Foto: Ernesto Benavides/AFP
Laura, que vai completar 23 anos na próxima sexta, dia 27, ganhou o presente antecipado no megaevento chileno. A atleta ostenta no currículo outros títulos importantes, como o vice-campeonato mundial da categoria 76kg em 2021, no Uzbequistão. Ela agora quer acrescentar novos capítulos vitoriosos em sua trajetória, cuja meta é Paris-2024, onde espera representar o Brasil neste esporte ainda pouco conhecido em nosso país.
De pequena estatura, com apenas 1,68m, ela se agigantou na última segunda-feira, desta vez na classe abaixo de 81kg, ao fazer 110kg no arranco e mais 132kg no arremesso, somando os 242kg que lhe deram o bronze. No pódio, ficou abaixo apenas da campeã, a americana Olivia Reeves, com números finais de 258kg (114kg e 144kg) e de Yudelina Mejía, da República Dominicana, com 244kg (111kg e 133kg).
"Nesse momento da minha carreira, essa medalha é muito importante. É muito mais do que um bronze, significa muito. Realmente, é um momento difícil na temporada para todas as atletas. Você vê que está todo mundo tentando se manter bem e constante, e isso está sendo muito difícil. Então, acertar esse resultado, conseguir essa medalha...Fizemos estratégias boas na competição. Acertamos os momentos que precisávamos acertar", comentou a terceiro sargento da Marinha e atleta do clube Adaan, ressaltando o trabalho do treinador Carlos Henrique Aveiro.
Laura está em sua primeira edição de Jogos Pan-Americanos. Acompanhou com atenção pela imprensa os Jogos de Toronto-2015. Agora, oito anos depois, começou a escrever sua história no evento:
"Competição mais bonita que eu já participei. Muita gente, uma energia incrível e que bom que eu consegui crescer e jogar minha energia para fora também. Estou muito feliz. Quero agradecer muito a todo mundo que torce por mim, a todo mundo que compartilha dessa energia. Essa medalha, nesse momento da minha carreira, é muito especial".
Antes mesmo da medalha, a pesista já encarava o Pan como a grande celebração esportiva das Américas:
"Tem aquele clima que a gente já sente desde o aeroporto, pelas redes sociais do Time Brasil... Todo mundo da nossa equipe se encontrou com a galera das outras modalidades no aeroporto e a gente sente essa energia de time, que é o que mais levanta a gente, ficamos muito felizes".
Depois de ter competido pelo Brasil em Mundiais e Sul-Americanos - em que há apenas competições de seu próprio esporte -, Laura está experimentando a sensação de se integrar ao Time Brasil - denominação utilizada pelo Comitê Olímpico do Brasil para se referir à delegação que inclui atletas e comissões técnicas de vários esportes, em eventos como as Olimpíadas ou os Pan-Americanos.
"É outra coisa estar aqui. Quando vamos em uma missão como essa, vai ter o começo dos Jogos, a energia aumenta, todo mundo com medalha, se puxando, se acompanhando, a contagem de medalhas na Vila... Com certeza esse espírito de Jogos vem muito forte e faz toda diferença na competição", enfatizou.
Laura começou sua carreira no levantamento de pesos quando tinha 13 anos. Pôde observar, na ocasião, que havia muitas mulheres nos locais de treinamento, algo que se observa ainda hoje.
"Hoje elas ainda são maioria no meu centro de treinamento. E com certeza isso é por ter tido a primeira. A Elizabete Jorge - ex-lavadeira que treinava com uma "barra" feita por cabos de vassoura e pesos improvisados, no fim dos anos 1990 e atualmente dirige um CT da modalidade em Viçosa-MG - foi a primeira, com 43 anos, nos Jogos Olímpicos (em Sydney-2000). Tem noção do que é isso? O que esse valor passa para as mulheres, as mulheres pretas, que olharam esse feito e continuaram o trabalho? O fato de ter uma ali com certeza puxa as outras. Os fatos dizem para nós o quanto o levantamento de peso está sendo bem sucedido no cenário internacional, o quanto estamos fazendo a história. As mulheres estão puxando umas às outras", comentou a medalhista de bronze.
Já de olho em 2024, Laura tem se empenhado para conquistar a vaga olímpica. Para isso, precisa estar entre as top 10 do ranking da Federação Internacional.
"Na classificação olímpica, vão as dez primeiras no ranking. Eu venho de uma medalha em mundial, então poderia estar muito perto da classificação. Seria assim se não tivesse acontecido a mudança de categoria, a diminuição de vagas. Eram sete categorias, agora são cinco. Mas temos chances de classificação. Ir um de cada país facilita. Se fossem duas ou três por país seria mais difícil. Hoje estou no top 7 da classificação olímpica, é uma posição legal. A vaga está bem na nossa mão", calculou Laura, otimista e pronta para continuar levantando muito peso pela vida afora.
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