Recordista brasileira de medalhas olímpicas, com seis dois ouros, três pratas e um bronze), além de nove pódios em Campeonatos Mundiais (três ouros, quatro pratas e dois bronzes), a ginasta Rebeca Andrade posou pela segunda vez para a capa da prestigiada revista Vogue do Brasil, uma das mais importantes publicações especializadas em moda e lifestyle neste país.
Foto: MAR +VIN/ Vogue Brasil
Nesta sua segunda presença nas páginas da prestigiada publicação, a paulista de 25 anos, natural de Guarulhos, nascida a 8 de maio de 1999, demonstra lidar bem com a ascensão à condição de personalidade nacional e também com o fato de ser uma das grandes estrelas do mundo do esporte. Em entrevista à jornalista Bárbara Oberg, a atual Rainha do Esporte do Brasil fez uma revelação. Ela chegou a pensar em pendurar os collants depois de Paris-2024:
“Sempre que termina uma Olimpíada, falo que não vou voltar na próxima. Este ano eu tinha certeza que seria minha última, mas estou aqui e pensando na possibilidade de ir para Los Angeles-2028”, revelou, explicando porque deve abandonar o solo. “Esse tipo de prova é muito desgastante para os membros inferiores, eu tenho muitas cirurgias (oito ao todo) e sinto dores. No solo, a gente precisa aguentar 14 vezes o nosso peso na hora do impacto com o chão. Faço isso desde que eu me entendo por gente, sempre competi em todos os aparelhos e uma hora essa conta chega e, para mim, chegou. É muito difícil abrir mão de um aparelho em que eu tenho chances, mas preciso colocar a minha saúde em primeiro lugar.”
As quatro vezes em que subiu ao pódio em Paris – ouro no solo, prata no salto e no individual geral e o bronze por equipes - porém, serviram como combustível para que ela começasse a planejar sua terceira participação olímpica, em Los Angeles-2028 (em Tóquio, havia ganho o ouro no salto e a prata no individual geral). O ouro no solo entrou para a história por uma imagem emblemática, a de três negras no pódio: além da brasileira, a medalhista de prata Simone Biles e a de bronze, Jordan Chiles (que posteriormente perderia a colocação para uma atleta romena). No pódio, Rebeca foi reverenciada pelas americanas, que se curvaram diante dela:
“Três mulheres, pretas, esportistas ocupando um espaço que antes era raro ver sequer uma pessoa preta, imagina três! As meninas sentiram que aquele momento era muito especial para mim. Foi uma surpresa que me deixou muito feliz, honrada e acho que concretizou algo gigantesco. Três mulheres, pretas, esportistas ocupando um espaço que antes era raro ver sequer uma pessoa preta, imagina três! Aquela única imagem representa uma comunidade gigantesca que por muitas vezes foi impedida de sonhar. A gente mostrou que é possível. Olha de onde viemos e tudo que conquistamos”.
Desde a infância, Rebeca é alguém com forte base familiar, graças à mãe, dona Rosa, que pôde assisti-la pessoalmente em Paris. Doméstica, ela criou oito filhos em Guarulhos, como mãe solo. Rebeca começou a treinar num projeto esportivo em Guarulhos, ainda criança. Depois teve a chance de ingressar na equipe de ginástica do Flamengo, no Rio. Outro ponto de apoio importante da atleta é seu técnico Francisco Porath. Fora do esporte, ela cursa psicologia, apoia e cuida da saúde da mãe e mora em um condomínio de casas no Recreio, bairro vizinho à Barra da Tijuca, no Rio.
“Foi a primeira coisa que eu tive no meu nome, meu mesmo, sabe? Lembro que, quando deu tudo certo, eu chorei e agradeci. É uma conquista muito grande, principalmente pensando de onde vim, sabendo que foi com o meu dinheiro, do meu suor e do meu trabalho”, festeja ela, que mantém suas medalhas em casa, muito bem escondidas.
Se o ano de 2024 foi o melhor, talvez ainda seja cedo para dizer, porque não se sabe o que reserva o futuro. Mas Rebeca comemora não apenas as medalhas, mas outros passos fundamentais:
“Foi um ano incrível profissionalmente, mas foi no meu pessoal que eu pude ver o quanto realmente amadureci.”
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