Há gritos que machucam mais que uma surra. Ofensas que parecem cortar a carne profundamente, a ponto de atravessarem as várias camadas de tecido do corpo até atingirem mesmo a intimidade, a própria alma. Por isso, não deve ter sido fácil para Anderson Melo, atleta do vôlei de praia, ter enfrentado gritos e cantos homofóbicos no último fim de semana, durante a etapa de Recife do Circuito Brasileiro deste esporte, ao qual se dedica como profissional.
Foto: reprodução Instagram
Ele não estava ali brincando, se divertindo. E mesmo que estivesse, os desocupados e frustrados que o ofenderam não tinham esse direito. Ali tratava-se de um trabalhador do esporte, em busca de seu ganha-pão.
O lamentável caso faz lembrar, porém, algumas tardes da infância e adolescência de quem tem cerca de 50 anos. Quem está nesta faixa de idade deve se lembrar daqueles jogos de tabuleiro, do tipo Caça ao Tesouro. No jogo, havia uma espécie de mapa, dividido em dezenas de quadrados. Nele, cada participante jogava alguns dados sobre a mesa e ia avançando pinos ou mesmo moedinhas para tentar chegar ao último quadro, onde estava o tesouro, o prêmio da vitória. Dependendo da pontuação exibida pelos dados, o jogador tinha de cumprir o que estava determinado no mapa da brincadeira. Se alguém tirava cinco pontos, por exemplo, observava que o quadrinho que estava cinco pontos adiante determinava “avançar cinco casas”; ou então, “recuar três casas”.
Neste jogo do dia-a-dia brasileiro, quando há a impressão de que o país vai avançar vários espaços, rumo ao tesouro de uma sociedade menos preconceituosa e mais inclusiva; mais amigável e menos agressiva, tais atitudes homofóbicas, racistas, sexistas ou de preconceito social, fazem com que o peão do Brasil tenha de cumprir o pior castigo que aparecia: “retorne ao começo do jogo”. Quando parece que certos problemas já estavam superados no país, a mensagem é de advertência para o Brasil ficar parado ou voltar mesmo ao começo do percurso. Ao Anderson Melo, o SPORTSM envia um curto recado: “Bola pro alto! Um abraço!”
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