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A “bola” que rola dentro e fora de campo

Por Andréa Bruxellas


A seleção brasileira masculina de futebol precisa confirmar a vaga para a Copa do Mundo de 2026. A situação ainda não é desconfortável. O Brasil ocupa a quarta colocação na tabela de classificação com 21 pontos em 14 jogos disputados. As expectativas agora giram em torno da estreia de Carlo Ancelotti, que no próximo dia 5, em Guayaquil,  comanda a equipe canarinho contra o Equador. Após deixar o Real Madrid, o técnico italiano assumiu a seleção brasileira com a missão de classificar o Brasil e, também, conquistar a confiança do torcedor.

Segundo levantamento da CNN, Ancelotti, que foi apresentado por Ednaldo Rodrigues como um grande trunfo nesse momento complicado, vai custar aos cofres da CBF R$5 milhões por mês,  o maior salário do mundo entre os técnicos de seleções. O valor é bem maior do que o que recebia seu antecessor, Dorival Júnior, que foi demitido e custava pouco mais de R$1 milhão por mês.

Apesar da onda de otimismo que envolve a contratação do novo treinador, fora de campo, os escândalos envolvendo a CBF ainda respingam na seleção. Sem dúvida o afastamento de Ednaldo Rodrigues na quinta-feira (15) e a petição apresentada por ele na última segunda-feira (19) garantindo que não tentará voltar ao cargo, acende uma esperança em meio aos caos.

No mês passado, a Revista Piauí publicou uma matéria do jornalista Allan de Abreu trazendo denúncias sérias contra Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade mais importante do futebol brasileiro, a CBF. Segundo a reportagem, o cartola, estaria se beneficiando das verbas da confederação, que fatura com patrocínios e direitos de transmissão mais de um bilhão de reais por ano.

Algumas das denúncias publicadas pela Piauí, repercutiram bastante na imprensa, entre elas a de que a mulher, a filha, a cunhada, o genro, os netos e os amigos de Ednaldo teriam assistido a Copa do Catar com direito a mordomias como passagens aéreas, hospedagem, alimentação e cartão corporativo com crédito de 500 dólares por dia para gastar livremente. Tudo por conta da CBF. A reportagem ainda citou nomes de políticos e até do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, fundador do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), responsável por gerir os cursos para treinadores, preparadores físicos e gestores oferecidos pela  CBF Academy em troca de 84% da receita, que em  2023 foi estimada em 9,2 milhões de reais.

O baiano, que chegou a ser deposto do cargo em dezembro de 2023 e  reconduzido no início de janeiro de de 2024 após decisão de Gilmar Mendes foi reeleito para o mandato de março de 2026 a março de 2030. A eleição, no entanto,  foi novamente envolta em suspeição após o reajuste de salários dos presidentes das federações de 50 mil para 215 mil reais. Além disso, a desordem administrativa e financeira, os relatos de assédio e vigilância na sede da CBF e a falsificação de assinatura de acordo que legitimou a eleição de Ednaldo em 2023 foram a gota d’água para que o Tribunal de Justiça determinasse o afastamento do dirigente e novas eleições fossem convocadas para o próximo domingo (25).

A eleição para presidência da CBF terá chapa única com Samir Xaud, presidente da Federação Roraimense de Futebol (FRF). A eleição também definirá os oito vice-presidentes da confederação. Entre os nomes está o de Michelle Ramalho Cardoso, presidente da Federação Paraibana de Futebol (FPF), que, se eleita, será a primeira mulher da história no cargo. Vários clubes das séries A e B afirmaram que não participarão da eleição.

As sucessivas confusões envolvendo a CBF, proprietária de uma das principais “marcas” do mundo, afetam a imagem da Seleção Brasileira de Futebol.



“...a  seleção brasileira, sobretudo, a principal masculina, é o principal ativo do futebol brasileiro, uma marca internacional, com um enorme poder de atração de capital, maior inclusive do que grandes clubes do futebol nacional e internacional. A paixão dos brasileiros pelo futebol e a admiração pela seleção canarinho são exploradas pelo mercado, em seus diferentes ramos, valorizando as marcas e criando uma identificação do torcedor com a empresa, ainda que isso não signifique a compra dos produtos” ( WB, MATIAS, 2020). 

 O problema é que grandes  'marcas’ também estão sujeitas a terem sua imagem manchada. Dentro de campo, a Seleção Brasileira, cinco vezes campeã mundial, tem apresentado resultados bem abaixo do esperado. Desde a emblemática derrota por 7 a 1 contra Alemanha em 2014, os questionamentos em relação ao desempenho daquela que já foi considerada a maior equipe de futebol do mundo são sucessivos. A própria representatividade do futebol como elemento de construção da identidade social brasileira segundo a perspectiva acadêmica de Hall (2000, p.112) também estaria passando por um momento de crise por falta de identificação do torcedor com a “marca” seleção brasileira.

Vale lembrar que todos os quatro presidentes da CBF anteriores a Ednaldo tiveram envolvimento comprovado em crimes de corrupção. Ricardo Teixeira, que presidiu a organização por 23 anos, renunciou após ver seu nome envolvido em denúncias de vantagens em contratos de marketing da CBF. No livro "Jogo sujo - o mundo secreto da Fifa” o jornalista inglês Andrew Jennings afirma que o cartola e o ex-sogro João Havelange, então presidente da Fifa, teriam feito um acordo com a Justiça suíça e pago mais de 10 milhões de reais para escaparem da condenação. O sucessor, José Maria Marin, chegou a ser preso em 2015 na Suíça e condenado nos Estados Unidos três anos depois por participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraude bancária. Marco Polo Del Nero, o presidente seguinte, foi banido do futebol pela Fifa por corrupção envolvendo contratos de transmissão de eventos. Em 2021, Rogério Caboclo foi afastado sob acusação de assédio moral e sexual contra funcionários da CBF.

Resta agora torcer para que todo esse mar de lama não entre dentro de campo na segunda-feira (5) e, aos poucos, a seleção canarinha, agora sob o comando de Ancelotti, consiga reconquistar o respeito do mundo. Depois do Equador, o Brasil enfrenta no dia 10 de junho o Paraguai, que ocupa a quinta colocação com os mesmos 21 pontos da seleção brasileira. 


Referências



HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T. da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes,2000. p. 103-133. 


JENNINGS, Andrew. Jogo sujo - O mundo secreto da Fifa, Panda Books, 2012.


WB, Matias. “A dona da bola: as finanças da CBF” R. bras. Ci. e Mov 2020;28(3):149- 170).

 
 
 

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