Por Amir Somoggi
Utilizando ideias inovadoras de cruzamento de dados financeiros, marketing digital e tendências, a agência de marketing esportivo Sports Value publicou recentemente uma análise detalhada dos dados financeiros dos 20 clubes com maiores receitas do Brasil em 2023. Atlético-PR, Flamengo, Internacional, Goiás, Atlético-MG, Fluminense e Fortaleza foram os clubes com maiores superávits em 2023. Pela análise feita, Athletico-PR e Flamengo podem ser considerados os mais ricos do Brasil. O clube paranaense acumula superávits de mais de R$712 milhões em 6 anos e o Flamengo R$635 milhões.
A pesquisa mostrou ainda que os custos com futebol dos clubes aumentaram 20% em relação ao ano anterior, atingindo R$6,8 bilhões em 2023. Já as receitas dos TOP 20 times atingiram pela primeira vez R$9 bilhões em 2023, um aumento de R$1 bilhão em relação a 2022. A melhora pode ser explicada pelo aumento do volume de recursos com as transferências, patrocínios e receitas em dias de jogos. Mesmo sem a exploração do futebol como entretenimento global, os patrocínios chegaram pela primeira vez a casa de R$1 bilhão em 2023.
Através dos números publicados, foi possível verificar mudanças na participação das fontes de receitas dos clubes. Direitos de TV e premiações representam agora 36% frente aos 40% do total em 2022 e 52% de 2021. As transferências atingiram 22% do total, 2% a mais do que em 2022. As receitas obtidas através de marketing repetiram o percentual de 2022, 16%.
Além dos patrocínios, alguns clubes conseguiram ampliar os ganhos com novas receitas comerciais. Segundo cálculos da Sports Value, os patrocínios representam cerca de 73% das receitas de marketing dos clubes.
De volta à Série A, as receitas do Grêmio sofreram um impacto positivo com a contratação do uruguaio Luiz Suárez. Já o Athletico-PR seguiu a evolução obtida no ano anterior com receitas diversificadas.
O Flamengo atingiu um faturamento de quase R$1,4 bi em 2023. A evolução foi de 3% em relação a 2022. As transferências tiveram um forte impacto na receita de R$303 milhões também majorada pela ascensão nos ganhos com o marketing e matchday. Embora o futebol represente 62% das receitas do clube, os custos com o futebol atingiram R$849 milhões. O rubro-negro fechou o ano de 2023 com superávit de R$ 320 milhões e dívidas em um patamar menor, R$ 68 milhões.
A análise dos números de 2023 mostraram que o Corinthians atingiu a maior receita de sua história, R$937 milhões. O crescimento de 20% foi muito impactado pelos R$251 milhões obtidos com as transferências. Embora os custos com futebol continuem em altos, R$672 milhões, o Corinthians agora é o segundo clube em faturamento do Brasil. O clube paulista fechou 2023 com superávit de R$1 milhão e dívidas de R$886 milhões.
As receitas do Palmeiras foram um pouco menores do que as obtidas pelo Corinthians. Atingiram R$909 milhões. Os custos com futebol também foram superiores aos do Timão, R$697 milhões. Ainda assim, o Clube fechou com superávit de R$8,5 milhões. As dívidas estão em R$943 milhões, parte vindas do Allianz Parque, cuja dívida está em R$537 milhões.
2023 também não foi um ano tão bom para o São Paulo, que fechou com déficit de R$62 milhões e um acréscimo de 14% nas dívidas, que estão em R$667 milhões.
A receita do Athletico foi recorde, R$511 milhões. Um aumento de 38% graças aos R$241 milhões em transferências. O clube fechou com superávit de R$383 milhões e a dívida líquida chegou a zero.
Embora não divulgue sua fonte de receitas, o Red Bull Bragantino passou a ter o 6º maior faturamento do Brasil, com receitas de R$488 milhões. O clube fechou seu balanço com superávit de R$27 milhões. As dívidas subiram 36% e estão em R$408 milhões.
As receitas obtidas com o pagamento em dólares da Libertadores e Mundial, além do crescimento em marketing e matchday contribuíram para o aumento das receitas do Fluminense, que atingiram R$481 milhões, um crescimento de 38%. As dívidas do clube caíram 16%, ficando em R$597 milhões.
O Grêmio também encerrou 2023 com uma alta de 37% nas receitas, que ficaram em R$467 milhões, alta de 37%. A volta à Série A além da contratação de Luiz Suárez impactaram positivamente os números. No entanto, os custos com futebol, que representa 78% das receitas do clube, atingiram R$364 milhões, gerando um déficit de R$45 milhões e um aumento de 1% nas dívidas, que estão em R$526 milhões.
O faturamento do Atlético-MG foi de R$439 milhões. O clube conseguiu reduzir em 13% os custos com futebol, fechando 2023 com superávit de R$111 milhões. Em parte devido à sua transformação em SAF, as dívidas caíram 13% e, até novembro de 2023, somavam R$1,36 bilhão.
Com muitos ganhos com transferências de jogadores e receitas de marketing, o Santos fechou com superávit de R$1 milhão. O valor das dívidas subiu 12% ficando em R$606 milhões.
Embora tenha apresentado uma queda de 9% nas receitas, o Internacional fechou com superávit de R$170 milhões pelo registro integral dos R$211 milhões referentes à negociação com a Liga Forte União. As dívidas do clube estão em R$899 milhões. Só o impacto dos custos do estádio Beira Rio representou R$686 milhões em 2023.
O Botafogo teve uma alta de 155% nas receitas, que foram de R$388 milhões. Os custos com futebol, que representam 106% das receitas, atingiram R$412 milhões, uma alta de 60%. A Botafogo SAF fechou com prejuízo de R$101 milhões. Em 2 anos acumula perdas de R$349 milhões. As dívidas da SAF estão em R$309 milhões, graças ao aporte do investidor (R$370 milhões). A dívida social do clube está em R$764 milhões.
O Vasco da Gama apresentou forte evolução nas receitas. Com uma alta de 169%, atingiu R$364 milhões. A volta para a Série A e a transformação em SAF contribuíram para a melhora. Sem o impacto das transferências a evolução foi de 79% em 2023. Custos com futebol atingiram o maior valor de sua história, R$342 milhões, alta de 280% fazendo com que o déficit do clube atingisse R$123 milhões e as dívidas subissem para R$749 milhões.
O Fortaleza comemorou o aumento das receitas com o matchday, que passaram pela primeira vez dos R$58 milhões. O Clube fechou com superávit de R$66 milhões e redução de 80% nas dívidas, que estão em apenas R$7 milhões.
O América-MG fechou 2023 com déficit de R$22 milhões e dívidas de R$137 milhões, uma alta de 12%.
O Bahia encerrou 2023 com aumento de 77% nas receitas, mas a SAF fechou com prejuízo de R$66 milhões.
O Ceará amargou uma queda de 24% nas receitas, que ficaram em R$132 milhões, gerando um déficit de R$0,8 milhão. Apesar das dívidas do clube terem diminuído 56%, estão em R$60 milhões.
O Coritiba gerou receitas de R$99 milhões. Fechou com superávit de R$15 milhões e dívidas de R$198 milhões.
Sem considerar os R$29 milhões recebidos da LFU, o Cuiabá atingiu receitas de R$140 milhões. Os custos com futebol atingiram R$98 milhões. Ainda assim, o clube fechou com superávit de R$37 milhões e sem dívidas, assim como o Goiás. que fechou com superávit de R$124 milhões.
A fim de compreender as receitas recorrentes de cada clube, a Sports Value analisou as receitas sem o impacto das transferências de atletas. O volume gerado pelos TOP 20 clubes foi de R$7 bilhões em 2023, um crescimento de 15%. Destaques para Flamengo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Fluminense, que estão entre os TOP 5 em receitas.
Em 2023 os custos com o futebol acompanharam o crescimento das receitas e atingiram o maior patamar da história. Entre os grandes clubes brasileiros, Flamengo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Fluminense e Botafogo foram os que apresentaram os maiores custos com futebol. Coritiba, Ceará, Atlético-MG e Internacional conseguiram reduzir os custos com a modalidade em comparação com 2022.
Os TOP 20 clubes registraram superávits somados de R$922 milhões em 2023, frente ao déficit de R$34 milhões de 2022. Os valores recebidos da Liga Forte impactaram positivamente no resultado líquido. Muitos clubes fechariam o ano com resultado líquido negativo, sem esses recursos extraordinários.
Os modelos de administração mais equilibrados da atualidade no Brasil são os do Flamengo, Palmeiras e Athletico-PR. Mas mesmo com esses bons exemplos, o Brasil perdeu competitividade global. A alta do dólar nos últimos anos e o baixo desenvolvimento mercadológico dos clubes brasileiros ainda são os maiores vilões.
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