A distância entre o Rio e Porto Alegre é de cerca de 1.600km, o que dá umas 19 horas de carro ou ônibus, ou pouco mais de duas horas de voo. Mas, quando falta dinheiro, tal distância parece ficar quase impossível de ser coberta, um obstáculo assim intransponível. Mas, para quem tem um projeto de futuro ou um sonho de vitória, como o time carioca BeesCats Soccer Boys, esse trajeto se percorre com gols e é recompensado por títulos. Foi assim nos dias 18 e 19 de novembro, quando a equipe amarela e preta derrotou o Bulls de São Paulo na capital gaúcha, para conquistar o tricampeonato da Champions Ligay, o campeonato nacional de futebol de sete da comunidade LGBTQIAPN+.
O Beescats tornou-se a primeira equipe a levantar por três vezes o torneio nacional, cujo objetivo é o de dar um olé no preconceito, por reunir atletas declaradamente gays. Há cinco anos, a mesma equipe carioca já havia conquistado a medalha de prata na modalidade, representando o Brasil nos World Gay Games, os Jogos Mundiais Games, em Paris. De acordo com Pedro Mara, diretor de futebol do BeesCats, não fossem campanhas de sócio-torcedores doações, ações comunitárias e a mobilização de sócios e amigos do clube, eles não teriam conseguido enviar o elenco até a capital gaúcha.
" A gente teve uma dificuldade muito grande para chegar a Porto Alegre. Mandamos atletas de ônibus, de avião, de carro… Quase que de bicicleta e de vassoura, a gente também mandou (risos). Partir para essa batalha, para continuarmos disputando outros torneios", comentou Mara.
Segundo o dirigente, dentro de campo, a campanha foi árdua, em especial o duelo final com os Bulls, um adversário tradicional na modalidade.
"Nós e o Bulls, de São Paulo, tínhamos ganho duas vezes este título. A disputa entre nós e eles era para sabermos quem seria o maior da história da liga. Nós passamos eles em termos de títulos. Chegamos ao terceiro título de forma inédita na história da liga e estamos nesta batalha", enfatizou o dirigente, antes de prosseguir:
"No jogo, o placar foi 1 a 1. Nós saímos na frente com 1 a 0, e depois eles empataram. Nós ganhamos na disputa de shootout, que no futebol de sete equivaleria ao pênalti. A final com o Bulls foi um teste pra cardíaco, pra você ver que a saúde está perfeita."
Pelo que conta o dirigente, todo o sacrifício e a tensão valeram a pena para uma conquista histórica dentro do futebol LGBTQIAPN+:
"Somos o primeiro time de futebol gay do Rio e fundadores da primeira liga gay nacional de futebol. Em Porto Alegre, nos tornamos o primeiro time do Brasil a conquistar o tricampeonato brasileiro de futebol gay. Nós conquistamos o tricampeonato brasileiro. Fomos o primeiro time a conquistar o tricampeonato numa liga que é muito difícil e disputada, apesar de que apenas quatro times ganharam esta liga.”
Segundo Mara, o Beescats não quer parar por aí. A ideia é retomar o planejamento para 2024, quando, no primeiro semestre, haverá a Taça Sudeste. No segundo semestre, o time vai tentar o tetracampeonato nacional, na Champions Ligay. Além disso, vai procurar torneios internacionais. Neste ano, o grupo tentou ir aos World Gay Games, que teve eventos em Hong Kong e no México, mas não viabilizou a viagem pela falta de dinheiro.
"Agora, o grande desafio com este tricampeonato é o de conseguir mostrar pro mundo, pras autoridades e pros empresários que é importante e necessário investir numa liga e em times que oportunizam a democratização do futebol", ressaltou Mara. "Este é um grande desafio nosso, pra gente poder pensar em torneios internacionais e tudo isso. Estamos atrás deste tipo de patrocínio. Conseguir mostrar que somos o maior time do Brasil e seguimos atrás dessa valorização pros nossos atletas."
Ano passado, fora do circuito LGBTQIAPN+, os BeesCats foram campeões de um torneio da Superliga Carioca de futebol de sete, no Grajaú. O Instagram da equipe é https://www.instagram.com/beescatsbr/.
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